quinta-feira, 26 de junho de 2008

Um ano de saudade

Há exatamente um ano atrás eu me despedia de meu pai.

Foi um dia triste, repleto de sentimentos turvos e confusos.

A constatação de um acontecimento tão definitivo como morte é algo desnorteador.

Passaram-se 365 dias desde então. 365 dias sem a presença de meu pai. 365 dias sem que deixasse de pensar nele um dia sequer. 365 tardes sem ouvir o baulho da bicicleta chegando em casa nem o assovio baixinho. 365 noites sem ouvir sua bênção antes de dormir.

o tempo realmente possui um efeito muito grande em nosa vida e naquilo que sentimos, pois nos permite processar e etender melhor cada acontecimento, cada perda.

A dor por não ter mais a presença de meu pai e não ter mais chances para lhe mostrar meu amor ainda existe e acredito, sempre exisitirá. Mas as lembranças felizes vão ocupando um espaço maior em meu coração à cada dia que passa assim como o sentimento de gratidão por cada momento vivido, por cada palavra, por cada sorriso, por cada ensinamento.

Uma das coisas que mais me deixam feliz é lembrar como meu pai sentia orgulho de mim. Era um orgulho tão genuíno, tão simples e tão humilde... tão verdadeiro.

Em 1999, comecei a trabalhar na mesma empresa em que ele trabalhava e me marcou profundamente a expressão que se estampou em seu rosto ao meu ver, pela primeira vez, coordenar uma reunião geral com os funcionários e fazer uma pequena palestra. Era um sorriso quase infantil. Quando cheguei em casa ele me estendeu a mão e me parabenizou dizendo que sentia muito orgulho por eu ser uma pessoa tão inteligente e tão talentosa.

Na verdade, a reunião não foi nada de mais... O que sempre foi demais foi o amor de meu pai por mim. E mesmo que eu não tivesse a mesma facilidade dele em expressar, o meu amor por ele também sempre foi imenso.

Que Deus o tenha presenteado com a paz, a felicidade e o descanso eternos, papai.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

É incrível como sempre me identifico com o que Martha Medeiros escreve!!! Acho que a ela já foi permitido aprender a sabedoria das coisas simples, aquela sabedoria que é realmente importante e nos faz ver o mundo com olhos mais claros, mais calmos.

Você é...

Martha Medeiros

Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava, você é os nervos a flor da pele no vestibular, os segredos que guardou, você é sua praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, você é o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra.

Você é a saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora.

Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, você é o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta, você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo, você é o que você desnuda.

Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, você é o desprezo pelo o que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá, você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você queima.

Você é aquilo que reinvidica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia.

Você não é só o que come e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê.