quinta-feira, 24 de maio de 2007

Mosteiro


Imagino que todos os meus leitores - que são pouquíssimos, diga-se de passagem - saibam que em 1996 eu pensava muito em seguir um caminho religioso e que, inclusive, passei um tempo no Mosteiro Nossa Senhora das Graças em Belo Horizonte.

Como na época eu não passava de uma adolescente de 16 anos, resolvi apenas ter esta experiência e adiar a decisão para o futuro, quando eu estivesse mais madura. Não sei exatamente o que aconteceu desde então... Acho que nunca cheguei a tomar a tal decisão. Fui apenas seguindo caminhos, fazendo escolhas diferentes e esta possibilidade de vida religiosa acabou se afastando.

Acho que eu poderia ser feliz se tivesse optado por esta vida, assim como acho que posso ser feliz na vida que tenho hoje, com meu trabalho, meus estudos e quem sabe, no futuro, um casamento.
Mas tenho sentido muitas saudades do tempo que passei no mosteiro e quero falar um pouco desta experiência.

Foi um tempo mágico. Amedrontador, mas mágico. O Mosteiro Nossa Senhora das Graças é da ordem beneditina. Esta é uma ordem contemplativa por essência, por isto, lá, o silêncio reina. E não é aquele silêncio desconfortável, mas acolhedor.

Como uma simples visitante e aspirante, eu não tinha acesso á toda a área do mosteiro, especialmente á área de clausura - local onde estão as celas (sinônimo de quarto) das monjas, seus locais de trabalho (elas mantêm uma gráfica e uma fábrica de consturas), seus jardins, seu cemintério (todas são enterradas lá mesmo)... mas tinha acesso á Betânia, local reservado para os hóspedes e composto por algumas celas simples, uma biblioteca, uma conzinha, banheiros e uma pequeno e simples jardim. A Betânia foi minha casa enquanto eu estive lá.

Além da Betânia, havia os parlatórios - pequenas salas usadas para conversar sem que a rotina silenciosa do mosteiro fosse alterada. Lá eu tinha frequentes encontros com as monjas e conversávamos sobre as mais variads coisas... elas me contavam do seu dia-a-dia e da vida no monastério, eu falava de minha vida, minha cidade... minha família... Todas tinham curiosidade em conhecer a jovem aspirante e por isto, eu era muito requisitada nos parlatórios...

Havia um pequeno refeitório onde todos os hóspedes - não eram muitos - fazíamos as refeições juntos.

Mas a parte que eu mais gostava do mosteiro eram seus corredores e suas capelas!!! Havia duas capelas que, de tão simples, eram maravilhosas! A capela do Santíssimo era bem pequenina e possuía algumas poucas cadeiras dispostas em frente ao Sacrário. Era realmente um lugar em que se desejava estar só. Eu passava longas horas lá. A capela maior, onde aconteciam todas as celebrações e cuja foto ilusta esta postagem, era, da mesma forma bastante simples, mas ao mesmo tempo grandiosa... muito alta, com bancos de madeira, uma cruz enorme - também de madeira - em uma das paredes, um tipo de arquibancada onde ficavam as monjas cantando seus cantos gregorianos e uma única imagem - a de Nossa Senhora das Graças.

Eu me levantava todos os dias ás 04:30, me arrumava e seguia pelo enorme e silencioso corredor que levava á capela maior para acompanhar o primeiro ofício do dia - Matinas. Os ofícios eram os momentos mais sublimes pra mim, especialmente o primeiro - ás 05:00, quando o sol estava nascendo e o último - as 19:00, quando o sol estava se pondo. Os ofícios são momentos de oração e acontecem seis vezes ao dia (se não me engano). Todos os ofícios são cantados em canto gregoriano pelas monjas - o que tornava esses momentos mais maravilhosos. Eu tentava acompanhar as orações e cânticos pelos livros de oração que eram cuidadosamente deixados para mim no primeiro banco da capela, mas canto gregoriano não é algo que simplesmente se pega um livro e sai cantando...

Nunca me esqueci de algumas das orações que eram cantadas nos ofícios, em especial, uma pequena oração que era cantada no último ofício do dia e era assim:

"Ó Deus que iluminais a noite e fazeis brilhar a luz depois das Trevas,
Concedei-nos passar esta noite livres do tentador
E ao raiar de um novo dia darmos graças em Vossa presença".


Os momentos que passei no mosteiro foram muito intensos. Tive experiências maravilhosas com Deus naqueles dias. Nunca me senti tão amada, tão acolhida por Ele...

Acho que existem certas experiências em nossa vida que nos transformam para sempre, que nos marcam e nos acompanham mesmo quando isto parece algo distante... Minha visita ao mosteiro foi uma destas experiências e me marcou profundamente deixando uma saudade diferente de todas as outras saudades que já senti...

Um comentário:

Anônimo disse...

Leila, dá para ver como essa experiência foi emocionante. Na verdade, lembro-me de você me falar sobre ela no tempo em que você trabalhava na loja. Fico imaginando que deve ser um lugar muito legal mesmo (embora não seja para mim de jeito nenhum...)