quarta-feira, 4 de julho de 2007

Meu Pai

"Das muitas coisas do meu tempo de criança
Guardo vivo na lembrança o aconchego do meu lar
No fim da tarde quando tudo se aquietava
A família se ajuntava lá no alpendre a conversar
Meus pais não tinham nem escola e nem dinheiro
Todo o dia o ano inteiro trabalhavam sem parar
Faltava tudo mas a gente nem ligava o importante não faltava
Seu sorriso e seu olhar
Eu tantas vezes vi meu pai chegar cansado
Mas aquilo era sagrado um por um ele afagava
E perguntava quem fizera estripolias
E mamãe nos defendia e tudo aos poucos se ajeitava
O sol se punha, a viola alguém trazia
Todo mundo então pedia pro papai cantar com a gente
Desafinado meio rouco e voz cansada
Ele cantava mil toadas, seu olhar no sol poente..."

Meu pai não tocava viola, mas assim como na música, as melhores lembranças do meu tempo de infância incluem sua presença.

Quando eu era criança, meu pai era tudo pra mim... meu amor, meu protetor, meu herói e meu amigo. Ele era criança comigo... Mesmo depois do dia inteiro de trabalho duro sob o sol nós brincávamos de fazer bichos na somba da lamparina á noite, jogávamos mico-preto, porrinha, caxeta...andávamos a cavalo juntos...Se ele se atrazasse para chegar em casa do trabalho eu ia para o alpendre com os olhos cheios de lágrimas e só saía quando o via apontando na estrada ou abrindo a porteira.

Quando veio para mim a adolescência, nós nos afastamos um pouco. Acho que era natural que o relacionamento mudasse, mas não encontramos a fórmula certa...ser crianças juntos era mais fácil... Surgiram muitas dificuldades - a rebeldia da adolescência, os conflitos, as brigas, as mágoas... mas sempre nos amamos.

Acho que não conseguimos mais alinhar esse amor tão bem como fazíamos no meu tempo de criança, mas sabíamos que ele existia. E ele se orgulhava de mim. Eu via isso em seus olhos!

Cometi muitos erros com meu pai. Mas decidi que não serão eles que guardarei na minha memória, mas as coisas boas que vivemos, o amor que sempre soubemos existir.

A dor de perdê-lo é, como bem disse um amigo meu, uma dor que anestesia... ás vezes sinto como se ele apenas não estivesse em casa e fosse entrar pelo portão a qualquer hora... mas tenho fé de que a vida venceu a morte para ele e que ao poucos a vida vencerá a morte também para mim.

3 comentários:

Um ser pensante disse...

Tomei a mesma decisão que vc quando perdi meu pai: a de me segurar às boas lembranças somente. Os erros fazem parte de todo um aprendizado, tanto erros de pais para filho quanto de filhos para pais. Se nos apegamos apenas à eles, deixamos passar todos os acertos, e de colher então todos os frutos do aprendizado que tivemos à partir do erros.
Beijos e muita luz,

Leila Souza disse...

É isto.
De minha parte, tento eternizar na minha memória os acertos meus e de meu pai.

Um ser pensante disse...

Obrigada,
Welcome! Espero que volte mais vezes!